Cátia Domingues

TIMOR
Olá! Sou a Cátia, tenho 25 anos, sou de Leiria e estou agora no 6.º ano de medicina. Espero que estejam bem, em casa e a aproveitar o tempo como ele merece ser aproveitado! É a altura ideal para nos dedicarmos a todos os mini projetos que já idealizámos na nossa cabeça, mas pensámos não ter tempo suficiente para concretizar, para aprender novas skills, dedicarmo-nos a coisas que gostamos e descobrir novos hobbies e paixões. Se virmos pelo lado bom, não são assim tantas as vezes em que nos é dado um bem precioso como o tempo. É de aproveitar!
Bem, da minha parte, venho falar-vos da minha experiência de 2 meses de voluntariado em Timor-Leste. O projeto em que participei foi criado de raiz por mim, após uma experiência prévia de voluntariado em Angola, em 2018, onde percebi o sentido da frase clichê “não dês o peixe, ensina a pescar”. Em Angola percebi o valor da prevenção primária e da educação para a saúde. Percebi que não tem sentido criar um sistema de saúde pelas folhas sem nos preocuparmos primeiro com a raiz. A raiz são as pessoas e a educação para a saúde pode ser uma arma com um poder gigantesco. Para além das questões relacionadas com a saúde, apercebi-me também que existem problemas ambientais gravíssimos nos países mais pobres e em desenvolvimento. Apercebi-me que todas as medidas contra as alterações climáticas e proteção dos oceanos são persistentemente violadas e ignoradas nestes países. Mas a culpa não é das pessoas, as pessoas simplesmente não tiveram a oportunidade de pensar nesses problemas, porque nunca lhes foram apresentados e porque, regra geral, os problemas do dia-a-dia já são suficientes e suficientemente graves para se pensar num bem comum, que é o planeta.
Falando agora de Timor-Leste: Timor é um dos países mais recentes do mundo. Viveu períodos extremamente conturbados ao longo da história, com a colonização portuguesa e posterior invasão indonésia. Foram muitas as vidas perdidas na luta pela liberdade, o que é bastante claro pela abundância de campas e cemitérios em todos os locais. Sempre vi o povo timorense como um povo lutador por natureza, cresci a acompanhar a emancipação do país e sempre tive uma enorme admiração e respeito por este povo. E bem, depois de Angola, decidi que queria retribuir o exemplo de coragem que estas pessoas deram ao mundo e tentar contribuir com uma migalha para o desenvolvimento deste país, que ainda precisa de tanta ajuda para crescer. Aprendi a costurar, comecei a fazer totebags, vendi mais de 100, consegui o dinheiro para lá chegar, e lá fui eu.
O meu objetivo era contribuir em duas vertentes: saúde e ambiente. Articulei a minha ideia com uma congregação religiosa com várias missões em Timor-Leste e desenvolvemos um projeto de educação nas escolas. Já em Timor, reuni com os professores, discutimos ideias e construímos um plano de aulas recorrendo a técnicas de educação não formal (através de jogos, construção de histórias, educação pela arte, etc) que cá fui pesquisando e aprendendo. A maior dificuldade para mim foi, sem dúvida, a comunicação. Apesar de o português ser a língua oficial, poucos são os timorenses que falam a nossa língua (ou o inglês), sendo a língua predominante o tétum. Mas esse problema também se resolveu, com ajuda de um dicionário de português-tétum que arranjei e com a ajuda preciosa das freiras com quem vivi (que geralmente falam bem os dois idiomas). Acho que esta articulação com os professores e as freiras foi fundamental para “ensinar a pescar”, uma vez que, estando eu apenas 2 meses no país, se fosse a única interveniente nas aulas, o mais provável seria todo o trabalho ficar perdido assim que regressasse a Portugal. Desta forma, consegui transmitir informação aos professores, que assim adquirem maior capacidade para dinamizar as suas aulas e passar a informação de forma mais efetiva.

Não me querendo alongar muito mais, queria só deixar a mensagem de que se querem mesmo fazer voluntariado internacional, sigam esse vosso sonho. A única desculpa para não o fazer é não querer. ? Não defendo que seja obrigatório para toda a gente ter este tipo de experiência, mas se é algo em que se revêm, por que não experimentar? Procurem projetos, façam os vossos próprios, falem com pessoas que já fizeram (estou à vossa disposição também haha), investiguem, sonhem. Pessoalmente, considero que estas minhas duas experiências foram o mais gratificante que fiz na vida e o que mais me moldou enquanto pessoa.

Um abraço virtual, fiquem bem!